quinta-feira, 28 de julho de 2011

Gatekeepers no Agenda-setting da imprensa brasileira

A revista Carta Capital traz em seu site entrevista com a doutora Patrícia Bandeira de Melo, que lança por agora, seu livro, fruto de seu doutorado, Histórias Que a Mídia Conta: O discurso sobre o crime violento e o trauma cultural do medo.

Em linhas gerais, a autora aborda o problema das coberturas jornalísticas como fator de imposição de medo na sociedade e questiona, nas entrelinhas, a questão da corrida pela audiência. Para ela, um dos problemas é o que se propõe, no jargão jornalístico, a suíte do fato.

Penso que se houver, de repente, uma mudança de ponto de vista dos setores de comunicação nas organizações, a tese de Patrícia pode ir por água abaixo. Apesar do campo de ciências sociais em que trabalha, e o campo das ciências sociais aplicadas em que a Comunicação Organizacional se situa, existe um elo tênue entre a sociologia e a comunicação. Explico: a cultura é onipresente, mas a comunicação tem a capacidade de transformar essa cultura. Não me refiro à cultura em sentido estrito, mas em sentido lato, amplo, a cultura de comportamento.

Vou tentar defender o que penso: como exemplo na entrevista de Patrícia à Carta Capital, a doutora expõe o caso do massacre em Realengo. No meu ponto de vista, a secretaria de comunicação da prefeitura do Rio poderia ter agido, nas suítes (matérias posteriores aos acontecimentos sobre o mesmo assunto), no sentido de mostrar que o Estado possui responsabilidades civis quando na posição de garante (ok, talvez eu não tenha sido feliz neste exemplo, mas acho que consegui evidenciar o papel de responsabilidade social do órgão público) e mais: evidenciar à audiência o que está sendo realizado pelo Estado de maneira a minimizar futuros acontecimentos correlatos.

Na prática de nosso cotidiano, não se trata de um tema tão fácil de ser abordado devido a sua abstração. A iniciativa planejada dos assessores de imprensa e de imagem demanda um espaço de tempo superior à velocidade dos fatos e acontecimentos. O papel do pauteiro pode prevalecer, por possuir exatamente a variação tempo em seu favor (quanto mais rápido e mais diversa a pauta, melhor), e principalmente diante dos acordos políticos que todos sabemos que existem entre a mídia e a política.
Assim, é evidente que nenhuma cultura é transformada de forma tão rápida. Mas de algum modo devemos começar, para que a mídia não faça nossos filhos crescerem trancados em um apartamento rodeado de tecnologias por serem mais "seguras", comportamento de euforia do medo que a mídia pode causar.

2 comentários:

  1. Caríssimo,
    primeiro, essa entrevista não foi dada a revista Época e sim a revista Carta Capital. Segundo, a autora do livro "Histórias que a mídia conta", Patricia Bandeira de Melo, não é psicóloga. Ela é jornalista, administradora, mestre em comunicação e doutora em sociologia. Acho que realizar uma pesquisa básica antes de postar qualquer crítica é um bom caminho. Quando se busca criticar o pensamento de outra pessoa, principalmente, é que deve-se saber sobre qual base teórico-metodológica a pessoa está inserida. Pelo visto, você não leu nem o livro citado, nem a entrevista. Eu poderia me delongar aqui lhe explicando a posição de Patricia Melo, mas acho que esse trabalho ficará para você refletir sobre o quê e como publicar. Dica: ela trabalha com a Sociologia Cultural, corrente norte-americana da sociologia, que tem como um dos seus expoentes o sociólogo Jeffrey Alexander. Já é um bom caminho para compreender e, quem sabe, falar sobre uma análise cultural das práticas sociais contemporâneas. Abraço.

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  2. Road, informações corrigidas.
    De fato, não li a matéria, nem o livro, mas ouvi uma reportagem e entrevista com a Patrícia Bandeira de Melo na rádio CBN, se eu não me engano.
    Não publiquei este post baseado em pesquisa científica com fontes doutrinárias e teorias sociais, longe disse. O post é apenas uma reflexão meramente pessoal, fiz alusão ao que se vê na prática, não em teoria. Trabalhei anos em redações de jornais de média e grande circulação. Muito longe, portanto de uma análise cultural das práticas sociais contemporâneas.

    Obrigado pela sua participação.

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